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Escalada do frete e falta de contêiner pressionam custos de empresas em Latam


12/06/2024


O comércio marítimo global enfrenta uma nova fase de aumentos dos valores do frete em que ocorre até a falta de contêineres. E isso ameaça se tornar uma fonte de pressão de custos adicional.


O quadro se deve a uma conjunção de fatores. Além de ataques de rebeldes a navios no Mar Vermelho, que levam ao desvio de rotas e impactam os preços, a economia aquecida nos Estados Unidos e o movimento do México de trazer a produção de volta ao país - o nearshoring - têm pressionado empresas da América Latina, segundo a MTM Logix, especializada em monitoramento de embarques internacionais.


Levantamento da consultoria mostra que, desde o início do ano, a taxa de frete marítimo na rota comercial Ásia-Brasil mais do que dobrou e passou de uma média de US$ 2.588 a US$ 2.966 em janeiro para US$ 5.440 a US$ 6.773 em abril (para contêineres de 40 pés).


Segundo fontes do comércio exterior ouvidas pela Bloomberg Línea, as cotações em maio já atingiram o piso de US$ 8.000 por contêiner, patamar próximo ao registrado no auge da pandemia, de US$ 10.000.


“Está faltando contêiner no mercado. Na China, esse problema já é uma realidade”, afirmou o CEO da MTM Logix, Mario Veraldo. Ele acrescentou que a curva de preços atual se assemelha com aquelas verificadas em 2020 e 2021, nos dois primeiros anos de pandemia. “Mas hoje temos uma situação diferente: os estoques nos Estados Unidos não estão confortáveis, o que pressiona as rotas globais.”


No início do ano, a empresa estimava que o frete marítimo teria um aumento médio de 5% a 10% em 2024. Até então, não havia problemas de falta de contêineres no mercado.


Agora, o executivo projeta um avanço do frete de 20% a 25% no valor consolidado de 2024 em relação ao ano passado. “A volatilidade é muito grande, as empresas têm tido dificuldades de se programar.”


Veraldo afirmou que a economia americana segue resiliente e com crescimento acima do esperado, o que tem contribuído para pressionar a demanda por novos estoques de mercadorias. Segundo o executivo, a maior economia do mundo se prepara para sua principal temporada de compras no ano (Black Friday e Natal), o que leva empresas a abastecer com antecedência as cadeias de suprimentos.


“Tem acontecido um movimento de estocagem nos Estados Unidos, o que acaba gerando um efeito grande nas cadeias globais. O resultado é que os preços do frete estão subindo.”


Em paralelo à esses dois movimentos, o México tem recebido um número crescente de empresas que pretendem iniciar a produção local, voltada tanto para o mercado doméstico quanto para os Estados Unidos, segundo o presidente da companhia de logística.


A demanda por contêineres da China para o país latino está em crescimento, mostram dados da MTM Logix. Segundo a consultoria, no primeiro trimestre de 2024, o valor médio do frete nessa rota cresceu 60% em relação ao mesmo período do ano passado.


“A economia mexicana está crescendo e o nearshoring faz com que a base de produção local aumente”, disse o executivo. Nesse contexto, as rotas da China para os Estados Unidos ou o México – cujo transporte dura em média 20 dias – acabam sendo privilegiadas pelos armadores, o que afeta o Brasil e o restante da América do Sul. Em média, as rotas China-Brasil duram de 30 a 35 dias.


Ainda de acordo com a MTM Logix, as rotas da China para a América do Norte, Central e do Sul sofrerão um impacto maior se comparadas às da Europa. “Os preços dos fretes devem sofrer com a falta de constância pelo menos até o fim de agosto.”


A tendência é que o impacto da escalada do preço do frete seja reduzido em produtos de maior valor agregado, que possuem margem mais elevada. No entanto outros setores, de commodities agrícolas a móveis, são afetados pelas dificuldades, segundo o executivo.


“Produtos do agronegócio que são transportados por meio de contêineres acabam sendo afetados. Café e açúcar estão entre eles”, disse Veraldo.


Empresas como a Cosan (CSAN3), por exemplo, estão sujeitas a sofrer impactos da alta do frete, segundo apurou a Bloomberg Línea. Procurada, a companhia disse que não vai comentar o tema.


CAOA, que depende da importação de insumos, também já enfrenta aumento de custos decorrente dos gargalos no transporte marítimo, segundo apurou a Bloomberg Línea. Procurada, a empresa do setor automotivo disse que não vai se manifestar sobre o assunto.


Outro setor em geral afetado pela escalada do preço do frete marítimo é o de proteína animal. Empresas como JBS e BRF estão em constante ameaça, disseram fontes à Bloomberg Línea.


Por outro lado, há companhias que podem se beneficiar. É o caso da JSL, empresa de transporte de carga rodoviária que opera em sete países. “O transporte feito por cabotagem na América do Sul pode acabar sendo realizado pelo rodoviário”, afirmou o CEO da companhia, Ramon Alcaraz.


Em um ambiente de incertezas, a volatilidade deve continuar sendo o principal desafio das empresas da América Latina. “As cadeias de suprimento não estão preparadas para absorver o aumento do frete e a falta de produtos”, afirmou Veraldo.



Fonte : bloomberglinea



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